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Bienal de Istambul convoca 55 artistas para pensar no conceito de lar

Mestres em criar narrativas com objetos domésticos, a dupla escandinava Elmgreen & Dragset assina a curadoria do evento deste ano na Bienal de Istambul.

Eles ficaram famosos em 2005 por instalar uma “loja” da Prada no meio do deserto.

Loja Prada na cidade de Marfa, situada no deserto de Chihuahuan, nos EUA.

Se ali já havia uma crítica ao consumismo e ao luxo, era inevitável que o alvo seguinte fosse o próprio mercado de arte. Quatro anos depois, os artistas Michael Elmgreen, dinamarquês, e Ingar Dragset, norueguês, convidavam 23 criativos para transformar os pavilhões dinamarquês e nórdico da Bienal de Veneza nas residências de “um excêntrico colecionador de arte e uma família disfuncional”.

A Good Neighbour, que propõe uma reflexão sobre as múltiplas noções de lar e bairro. Em pauta, a carga psicológica de elementos íntimos, questões de pertencimento e problemáticas que envolvem a imigração – um tema atual e recorrente nas últimas bienais internacionais.

O conceito de lar presente nesta bienal já aparece no trabalho de vocês há algum tempo.

"Sempre achamos fascinante como as pessoas se expressam por meio dos ambientes de suas casas, suas personalidades estão nos objetos, no mobiliário e no design que elas escolhem. Também nos impressiona como essas peças podem ser, muitas vezes, indicativos de diferentes períodos da vida de alguém. São épocas distantes que podem coexistir fisicamente em um único espaço. Construir interiores domésticos fictícios foi uma maneira que encontramos de comentar questões maiores da sociedade. Em 2013, inventamos a mansão de um arquiteto idoso e desiludido chamado Norman Swann dentro das galerias têxteis do museu Victoria & Albert, em Londres, e, dois anos depois, continuamos contando sua história na Galerie Perrotin, em Nova York."

Quais são os elementos das casas de vocês que expõem as suas personalidades? O lar é ao mesmo tempo uma extensão do próprio eu e uma projeção externa para os outros. É o lugar onde podemos nos expressar e fazer nossas próprias escolhas. Michael tem uma coleção gigante de tênis e eu sou louco por vasos de Murano. Nós crescemos na Escandinávia e isso influenciou nosso gosto quando o assunto é design de móveis: o mobiliário das nossas casas é bastante minimalista, até desconfortável –mas quem quer se espreguiçar o dia todo?

E qual é a primeira coisa que vocês observam quando entram na casa de uma pessoa? Nosso olhar vai direto para as estantes. É uma pena que muitas pessoas pararam de comprar livros para ler apenas e-books. Como espioná-las agora?

O lar é uma extensão do próprio eu e uma projeção externa para os outros. É o lugar onde podemos nos expressar e fazer nossas próprias escolhas"

A arte de vocês também propõe uma discussão sobre as mudanças das condições da vida doméstica. Quais são estas transformações e como elas são tratadas pelos artistas? Toda a noção de comportamento e estética dos consumidores relacionada às classes sociais foi obscurecida durante as últimas décadas, devido ao amplo acesso às informações fornecidas pela internet. Você não pode mais falar sobre um estilo específico da classe trabalhadora, já que ele vira moda no momento em que aparece nas ruas. E os bens de luxo já não apelam só para as pessoas mais ricas – na verdade, agora o alvo desses produtos é a classe média. A vida doméstica e tradicional, como a conhecemos, está desaparecendo. E essa transformação se vê maravilhosamente no trabalho de Alejandro Almanza Pereda, por exemplo. Ele cobre partes de pinturas clássicas com massas de concreto.

A ideia de “lar” pode significar casa, bairro ou país. Na Bienal, vocês planejam discutir questões ligadas à cultura ou às situações dos imigrantes na Europa também? Sim. Existem muitas obras que lidam com a noção de pátria e pertencimento. Diferenças culturais, imigrantes, refugiados, tradições: tudo isso é abordado. Os 55 artistas vêm de 32 países e muitos deles não moram onde nasceram. O angolano Yonamine vive no Zimbábue, mas já morou em Portugal e na Alemanha. Ele diz que já não tem uma ideia clara de casa. Parece que isso é sintomático de uma geração mais nova. Victor Leguy, de São Paulo, trabalha tanto com comunidades tribais deslocadas no Brasil quanto com imigrantes sírios que vivem em Istambul. De 16 de setembro a 12 de novembro. Via catalogue.globo.com

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