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A Definição de Design

  • Willian R. Miller por Francisco Santos
  • 10 de jun. de 2017
  • 7 min de leitura

O texto abaixo foi escrito por Willian R. Miller, engenheiro, arquiteto e educador americano, indicado pelo aluno do curso de Design Gráfico Uniftec Julio Cezar P. Jaques.

O modo como definimos design constitui a base da nossa expressão teórica e prática enquanto designers. Sem uma clara compreensão sobre o que desejamos significar por design, nos tornamos vítimas do pensamento arbitrário e de estilos, ao inconscientemente adotar noções variadas e deturpadas a respeito de estética, forma e função, enunciadas por outros.

Definição

A palavra design em inglês é usada tanto como substantivo como verbo. Em sua função de substantivo, design geralmente se refere a algum objeto ou coisa. Como verbo, habitualmente se refere a um processo ou a uma série de atividades. Para atender aos objetivos desta definição, a palavra design deve ser entendida somente como verbo, acentuando-se que design deva ser compreendido como um processo.

Assim, segundo um enunciado simples…

Design é o processo de pensamento que compreende a criação de alguma coisa.

Esta concisa definição de design, aparentemente estéril e ainda decepcionantemente simples, é construída sobre uma sólida fundamentação de idéias e conceitos que servem como verdadeira raiz para nossa filosofia de design. Descartar esta clara e simples definição por considerá-la genérica, obscura ou até mesmo óbvia, é desconhecer seu valor para nosso cotidiano como designers.

“Design é o processo de pensamento…”

Nesta definição, design é a atividade de criação, compreendida em oposição ao produto de uma criação. É uma seqüência ou um conjunto de eventos e procedimentos, preenchidos pelo pensamento, que levam à criação daquilo que está sendo projetado. Esse processo de pensamento envolve também as várias atividades comumente associadas ao pensar – contemplar, falar, escrever, desenhar, modelar, construir, etc. – e que são utilizadas para transportar uma “imagem de possibilidade” ao longo do percurso que se inicia na concepção original de um produto e termina em sua realização.

Em outras palavras, design não é o “produto”; o “produto” é, melhor dizendo, o resultado do design. Aquilo que foi criado não é um design. É o que é: uma casa, um automóvel, um computador, um programa de saúde, uma peça musical. Trata-se de uma coisa em si mesma. O design é o processo utilizado para criar essa coisa.

A natureza desse processo, muitas vezes imaginado como uma seqüência linear de eventos, na realidade é uma cadeia altamente complexa e multifacetada de atividades de pensamento. Embora, por um lado, o design possa ser considerado linear na medida em que se move sequencialmente no tempo, ao longo do percurso da concepção original à realização do produto, por outro lado também é não-linear. O pensamento do design trafega em descontínua associação, navegando de um a outro aspecto do problema em busca de uma solução. Atua em múltiplos níveis, no sentido em que trata com sistemas, subsistemas e até mesmo com detalhes diminutos que devem ser simultaneamente considerados.

O pensamento no design é também interativo. A simulação de formas exige, em etapas sucessivas, a construção, aproximação e reformulação, de modo a propiciar constantemente a compreensão suficiente para se atingir um novo e mais apurado nível de solução.

Como se pode perceber, este processo nomeado design pode ser discutido e descrito sob muitas formas. Isto não quer dizer, entretanto, que alguma descrição específica dada em determinada circunstância – linear ou interativa ou… – não venha a ser útil. Muitas vezes se faz necessário uma formulação específica para tornar efetivo e objetivo o desenvolvimento e

gerenciamento do processo como um todo. Importante de fato é o entendimento de que o processo de pensamento no design envolve uma grande variedade de estruturas processuais e, desta forma, não pode estar restrito a uma única metodologia em particular.

“Design é o processo de pensamento…”

Trata-se aqui de um “pensamento original”, ou seja, daquele tipo de pensamento que chamamos de insight – uma sinapse mental que, em determinado instante, percebe a potencial conexão entre um problema e uma possibilidade; que percebe a possibilidade para a ordem em meio ao caos, ou para a evolução em meio à ineficiência.

O design é também intuição, essa forma de pensamento subconsciente que nos leva a um sentido mais aprofundado de conhecimento, na maior parte das vezes em meio a uma aparente carência de confirmação racional. Intuição pode ser entendida como um insight prolongado que nos indica estarmos próximos de alguma coisa. Pode ser compreendida como o pressentimento que, muitas vezes, se abriga por trás dos nossos esforços para processar uma análise racional.

O design envolve também a razão, aquela forma de pensamento totalmente consciente que se aproxima do problema e analisa as possibilidades para a sua solução. Trata-se aqui do processo analítico que se baseia em método e lógica para se acercar, refinar e verificar suas variadas hipóteses.

Por fim, o design é a síntese desses três aspectos do pensamento (insight, intuição e razão) que forma uma completa, e verificável, conceituação do possível. Acreditar que a participação do pensamento no design se limita a um ou dois desses aspectos significa abafar o poder do nosso potencial criativo como designers. Aqueles que argumentam que o design, ou até mesmo a criatividade, seja algo ligado somente ao intuitivo ou ao racional, na maior parte das vezes o fazem baseados mais na limitação das suas próprias habilidades ou interesses do que em uma epistemologia bem estruturada.

À parte dos talentos que possamos possuir ou não, dos interesses que possam nos motivar, ou onde encontramos maior conforto e satisfação como designers, o design envolve a utilização e a síntese de todos os três aspectos do pensamento: insight, intuição e razão.

“Design é o processo de pensamento que compreende…”

Quer dizer: o design inclui, ou contém, todo o pensamento ou ação necessários à criação daquilo que está sendo projetado (designed). O todo do design compreende todas as partes individualizadas do processo de pensamento que encaminha, envolve ou, até mesmo, acompanha a criação da coisa que se projeta.

Dependendo do tipo de coisa ou objeto a ser projetado, esse processo pode incluir o seguinte:

  • a identificação de um conjunto de necessidades;

  • a conceituação dos modos de atender a essas necessidades;

  • o desenvolvimento desse conceito inicial;

  • a engenharia e análise necessários para assegurar o seu funcionamento;

  • a prototipagem ou modelagem da sua forma preliminar;

  • a construção da sua forma final;

  • a implementação de procedimentos diversos de controle de qualidade;

  • a venda do seu valor ao consumidor;

  • sua entrega ao consumidor;

  • a providência da sua manutenção; e

  • a obtenção de feedback quanto à sua utilização e valor.

Cada um desses passos contribui para a geração da forma e, assim, se constitui como parte do processo do design.

Frequentemente, os designers – os responsáveis pela criação de alguma coisa – limitam sua definição às primeiras fases desse processo geral e, desta forma, abdicam da sua responsabilidade como designers a favor dos outros. Ao fazê-lo assim, eles transferem o controle do processo a outros que, em grande parte das vezes, não estabelecem compromissos significativos com a “imagem de possibilidade” ou o “sentido de continuidade” que se refere ao produto final e com o modo pelo qual o produto se relaciona com o usuário. Essa cessão deste controle é uma das causas primárias da existência de produtos de qualidade inferior.

O design de qualidade (o processo) e produtos de qualidade (o resultado daquele processo) requer uma definição abrangente de design que compreenda a relação pensamento/atividade existente no processo e não somente um seu subconjunto, ainda que bem-intencionado.

“Design é o processo de pensamento que compreende a criação…”

Este processo compreensivo – que lida com o pensamento e a ação conjugados e integrados – está direcionado e culmina mesmo em uma criação. Isto é, ele conduz à realização tangível de uma conformação amadurecida da “imagem de possibilidade” que serviu originalmente para iniciar todo o processo.

Sem essa realização, aquela “imagem de possibilidade” original tende a se transformar em um sonho não realizado, uma frustração, e tende a se perder no tempo. Isso não significa que a imagem original não sofra mudanças ao longo do processo de design, já que isso acontece até mesmo de forma radical.

O importante é que essa mudança integre naturalmente o processo de maturação e que a finalização satisfatória desse processo, que sempre se inicia como uma mera experiência de nossa imaginação, culmine como uma realidade sensível e tangível no tempo e no espaço.

A criação dessa realidade serve como motivo para o processo geral de design. Porque, sem a criação, o processo seria tão incompleto quanto enganoso. Incompleto ao se interromper antes da criação, e enganoso quando a criação é substituída por uma impostura.

Muitas vezes o ato da criação é subtituído pela cópia pura e simples dos resultados de algum outro processo de design anterior, o que resulta em uma falsidade. Mesmo que os resultados de processos similares possam apresentar similaridades, ainda assim eles jamais são os mesmos e jamais deveriam ser tomados como soluções resolvidas. Cada processo de design deve incluir seu próprio ato de criação.

“Design é o processo de pensamento envolvido na criação de uma alguma coisa.”

Alguma coisa, isto é, o produto de um processo de design, pode ser:

  • físico, assim como um objeto que ocupa espaço (isto é, a casa em que vivemos, um carro ou uma obra de arte);

  • temporal, assim como um evento que ocorre no tempo (isto é, um concerto musical, uma campanha política, uma festa de aniversário);

  • conceitual, assim como uma idéia (isto é, a teoria da relatividade, o conceito de

cibernética, ou mesmo a definição de design); ou

  • relacional, assim como uma relação que descreva, ou especifique, a interação entre coisas em geral (isto é, os procedimentos para operar um computador, ou até mesmo a amizade entre duas pessoas).

Cada uma dessas coisas pode ser projetada.

O processo de design não se limita, como muitos foram levados a crer, àquela estreita categoria de objetos ou eventos que se supõe possuir algum tipo de apelo estético.

Qualquer coisa pode ser projetada, ou seja, pode ser criada a partir de uma intenção ou propósito. O total processo de pensamento que cadencia a criação daquela coisa, o processo que lhe dá forma, seja ela física, temporal, conceitual ou relacional é design.

Conclusão

Enquanto o conteúdo dos parágrafos precedentes elaboram as intenções da nossa definição, é ela própria que demonstra a clareza do seu sentido.

Esta simples definição…

“Design é o processo de pensamento que compreende a criação de alguma coisa.”

…sintetiza a essência do design. Mais importante, entretanto, é que ela apresenta a fundamentação necessária para uma substancial extrapolação desta essência que, através de nossos esforços enquanto designers, conduz a projetos mais cheios de determinação.

Esta definição não foi feita para ser conclusiva, mas para atuar como agente catalizador. Seu propósito é iniciar uma conversação mais ampla sobre design e promover sua importância para outros campos.

TRADUZIDO DO ORIGINAL “THE DEFINITION OF DESIGN”

POR JOÃO DE SOUZA LEITE (1997)

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